sábado, 17 de maio de 2014

Metais pesados: visão geral versus visão científica

Hoje em dia, em virtude da vasta veiculação do tema pelos meios de comunicação, certamente não é fácil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar do termo "metais pesados". Mas afinal, será que essas pessoas (incluindo você, leitor) sabem de que se trata um metal pesado? Tomando por base as inúmeras notícias de contaminação por metais pesados veiculadas na mídia, é comum enxergar esse grupo de substâncias apenas como um subconjunto dos  metais com propriedades tóxicas.

Todavia, é importante destacar que essa ideia não é válida ao se levar em conta o ponto de vista científico. Apesar de não haver um conceito de metal pesado bem definido no meio acadêmico, pode - se tomar por base uma vasta revisão bibliográfica realizada em 2002 por Duffus e apresentada à IUPAC para tentar delinear o que os cientistas entendem por "metal pesado". De acordo com o relatório de Duffus, se encaixam nesse conceito substâncias de massa específica elevada - acima de 3,5 e 7,0 g/cm3 dependendo da publicação levada em conta - além de massa atômica e número atômico elevados.

Levando em conta outras propriedades, que não as químicas, outros autores, como Hawkes, apontam características importantes para essa definição, como a formação de sulfetos e hidróxidos insolúveis, a formação de sais que geram soluções aquosas coloridas e a formação de complexos coloridos.

Observa - se portanto que, dentre os critérios adotados na conceituação científica, não se encontra a toxicidade. Alguns dos metais classificados como pesados, como o Zinco, o Cobre, o Cromo e o Níquel, são também considerados essenciais às reações metabólicas do organismo, e só se apresentam tóxicos em concentrações relativamente altas.
Todavia, tendo em vista que a toxicidade desse grupo de metais se configura atualmente como uma das maiores ameaças à saúde humana e ao bem estar do meio ambiente, essa é a propriedade cujo estudo tem maior relevância e, portanto, é a que será mais abordada nesse blog. Para dar início à essa abordagem, é importante destacar dois conceitos: espécie química e biodisponibilidade dos metais.

Espécie química consiste, basicamente, na forma em que o elemento se encontra. Todos sabemos que um elemento pode se apresentar de diversas formas na natureza, seja em sua forma livre, ionizado ou ligado a outro elemento. Dependendo de como se encontra, um mesmo elemento pode ou não ter capacidade de interagir negativamente com substâncias vitais ao nosso metabolismo. Esse conceito tem, portanto,  relação íntima com a biodisponibilidade, que é o potencial do elemento de ser absorvido por seres vivos.

Nas postagens seguintes, será abordado o mecanismo básico de ação dos metais pesados, seu caminho desde os dejetos de uma indústria, por exemplo, até nossos organismos e as particularidades de cada metal. Até semana que vem!

8 comentários:

  1. Ótima forma de quebrar lugares-comuns sobre o tema. Eu, pessoalmente, era um leitor que associava o termo "metal pesado" apenas à densidade do metal em questão e não estava familiarizado com as observações de Hawkes. Além disso, muito interessante também foi a desassociação direta entre metais pesados e toxicidade.

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  2. Incrível como o nome que se usa pra designar algo já nos dá uma ideia sobre o mesmo, seja ela equivocada ou não. Compartilhando da visão de muitos, também achava que o único fator levado em conta na classificação de um metal como pesado era sua densidade. Primeira das várias coisas que tenho certeza que esse blog ensinará não só a mim, mas como a todos os leitores :)

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  3. A abordagem acerca do comportamento de metais no organismo e toxidade foi bastante interessante, visto que podemos perceber a importância de tais elementos para as reação quimicas de nosso corpo e que uma simples variação na concentração destes pode causar enormes problemas. Assim, se desmistifica a história que condena os metais pesados a todo custo, mas nos deixa cientes que eles também são causadores de inúmeras enfermidades.

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  4. A postagem foi muito esclarecedora sobre os metais pesados. Com certeza boa parte das pessoas, com a qual também me incluía, pensa que o termo metais pesados remete somente à toxidade. Portanto, o blog abordou muito bem o tema para a primeira postagem, já explicando o conceito e preparando o leitor para as demais postagens. Aguardando-as ansiosamente.

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  5. A despreocupação e ignorância generalizada sobre os perigos dos metais pesados é de fato preocupante, uma vez que, como citado pelo autor, configura uma das maiores ameças à saúde humana.
    Até mesmo pessoas com maior conhecimento tem, muitas vezes, duvidas sobre o assunto, levando à importância de blogs informativos como esse que informam em um tempo relativamente curto e de forma interessante.

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  6. Excelente texto, Samuel!! Muito interessante a forma como voce trata o leitor.

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  7. Muito interessante a forma como o texto procura esclarecer melhor a ideia de que metais pesados são metais tóxicos, algo que podemos perceber que são necessários certos fatores para que os mesmos possam chegar a esse ponto, tal como sua concentração. Isso, unido a ideia de biodisponibilidade, dá uma noção mais clara de como tais metais podem influenciar no nosso organismo, pois alguns dos metais pesados podem ser encontrados dentro dos seres humanos. Aguardo próxima postagem!

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  8. Rompeu com as minhas expectativas, de maneira positiva, essa abordagem lógica sobre o que é um metal pesado. Mas ainda acredito que esses metais podem provocar malefícios para nossa saúde. Postagem esclarecedora, aguardo as próximas!

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