domingo, 6 de julho de 2014

E-Waste e metais pesados

Dando uma pausa na série de postagens a respeito de cada metal em específico, gostaria de falar hoje a respeito de um tema atual e de importante discussão envolvendo o assunto do blog: o lixo eletrônico.

Primeiramente, é importante levar em conta que uma característica peculiar do século atual em relação ao passado é a vinda das novas tecnologias para dentro dos domicílios. Quando surgiu, o computador, por exemplo, era uma máquina muito cara e que exigia muito espaço e, por conseguinte, só era adquirida por importantes empresas ligadas ao ramo de computação, que possuíam o espaço, o dinheiro e o suporte técnico necessários para manter essas máquinas. Todavia, com o tempo, os computadores passaram a ser cada vez mais portáteis e dinâmicos, e o mercado se voltou para seu uso pessoal - principalmente após o lançamento do PC (Personal Computer), da Windows. O mesmo ocorreu com outras tecnologias, como os telefones, por exemplo. 

Esse processo de "domiciliamento" das novas tecnologias trouxe uma revolução para o modo de vida do homem moderno, entretanto, trouxe consigo também alguns dos principais problemas enfrentados pela humanidade atualmente. A indústria tecnológica, infelizmente, tem como objetivo estimular o consumo contínuo da população, e para tanto criou o conceito de "obsolescência programada", que consiste em, intencionalmente, criar produtos que não tenham uma vida útil tão longa quanto possível, para que o consumidor precise comprar um novo produto assim que o antigo não for mais funcional. 

Essa interrupção precoce da vida útil das tecnologias de uso pessoal gera uma quantidade exorbitante do chamado "lixo eletrônico", que atualmente corresponde a uma quantidade de 49 milhões de toneladas métricas, ou 7 quilos para cada habitante do planeta, de acordo com um estudo publicado pela UNU (Universidade das Nações Unidas) em dezembro do ano passado. 


Gráfico 1 - Componentes do lixo eletrônico

O problema desse tipo de "resíduo" é que, além de estar crescendo na medida em que cresce a presença das tecnologias em nosso cotidiano (velocidades assustadoras), nele estão presentes substâncias potencialmente tóxicas - os nossos tão falados metais pesados - e a isso, no descarte, na grande maioria das vezes, não se dá importância.


Um aspecto social importante dessa questão é a venda aos países em desenvolvimento, como Índia, Ghana e até mesmo China, de grandes volumes de lixo eletrônico pelos países mais ricos. Sabe-se que existe uma parte desses resíduos que pode ser reaproveitada e revendida, mas isso só pode ser feito em condições seguras, pelo eminente risco de contaminação por metais pesados. Entretanto, pessoas de baixa instrução que entram em contato com esse tipo de material nos países em desenvolvimento dificilmente têm essa consciência, e manipulam, descartam de qualquer maneira e até mesmo queimam o lixo eletrônico que a eles chega.

A cidade de Guiyu é uma boa demonstração dos possíveis impactos desse problema na população. A cidade é conhecida como a área de maior reciclagem de lixo eletrônico no mundo e estudos mostram que seus residentes apresentam problemas digestivos, neurológicos, respiratórios e nos ossos bastante significativos. Além disso, cerca de 80 por cento das crianças de Guiyu têm doenças respiratórias. Os dados evidenciam a relação do contato com lixo eletrônico e problemas de saúde.


A esperança dessas pessoas que têm a saúde prejudicada pelo lixo eletrônico reside em atitudes dos países mais desenvolvidos e com a economia mais forte, para que estes invistam em maneiras de descarte seguro ao invés de simplesmente buscar quem aceite comprar seu lixo. Uma solução quiçá utópica para o mundo capitalista em que vivemos, mas infelizmente a única que temos em mãos.

Fontes:
http://www.prb.org/Publications/Articles/2013/e-waste.aspx
http://www.cnet.com/news/study-e-waste-recycling-poisons-people-with-heavy-metals/
http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/12/em-2017-volume-de-lixo-eletronico-no-mundo-aumentara-33-alerta-estudo.html
http://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/428-mercurio-cadmio-e-chumbo-os-inimigos-intimos-presentes-nos-eletronicos.html
http://lixoeletronico.org/

6 comentários:

  1. Interessante nessa questão do lixo eletrônico é discutir as medidas que poderiam ser tomadas pelas próprias empresas fabricantes dos aparelhos eletrônicos mais presentes na composição desse tipo de lixo. Por exemplo, a Apple, gigante no mercado tecnológico, em 2009, anunciou a criação de uma nova geração de iMac com novidades que tinham como foco o meio ambiente e sua preservação. Segundo a empresa, nesses computadores componentes mais nocivos à saúde seriam substituídos por materiais de fácil reciclagem, além de consumirem menos energia. Essas e outras medidas devem estar cada vez mais presentes nas gigantes multinacionais, já que o título de 'empresa verde' está cada vez mais impregnado na cabeça dos consumidores de uma maneira decisiva na hora da escolha do que adquirir.

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  2. Sobre essa problemática do lixo eletrônico, é preciso frisar que ele só tende a aumentar. Isso porque, como citado no texto, somos levados pela conduta consumista exacerbada a frequentemente estarmos trocando os aparelhos eletrônicos domicilares por outros mais modernos, mesmo que sem necessidade. O impacto é iminente: mais lixo eletrônico despejado e, com ele, mais baterias de lítio, mais recipientes com mercúrio, mais cádmio e assim por diante. E esses metais, como já falado posts antigos, têm a capacidade de se depositar em vários tecidos do corpo, como ossos, e causar inúmeros malefícios, como atravessar a barreira hemoencefálica. Seria interessante que as mesmas empresas que impulsionam a troca de produtos constante, também alertassem ao consumidor sobre as corretas formas de descarte, inclusive, sob um mecanismo de recompensa.

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  3. A ressalva na troca de equipamentos, mesmo que não seja necessária funcionalmente, é importante. Percebe-se que inúmeras empresas, como as de automóveis e de tecnologias portáteis, criam novos modelos sem existir uma real necessidade, com apenas mínimos detalhes de diferença, apenas para que venda-se mais. Infelizmente, a sociedade aceitou a ideia de que é sempre necessário ter a "tecnologia mais atual" e formenta essa estratégia. Infelizmente, a falta de um cuidado com o descarte com a "tecnologia antiga" causa os problemas apontados. Felizmente, muitas empresas tem realizado ações para readquirir esses resíduos, até para evitar o descarte indevido, mesmo que isso seja apenas uma estratégia de marketing

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  4. No dia 5 de Agosto de 2010 foi aprovada a Lei Federal nº 12.3055 referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil, que obriga a dar-se destinação adequada para os resíduos eletrônicos. No Estado de São Paulo foi promulgada em julho de 2009 a Lei Estadual 13.576 que institui normas e procedimentos para a reciclagem, gerenciamento e destinação final de lixo tecnológico. Isso é importante, pois os resíduos eletrônicos, se descartados de forma inadequada, constituem-se em um sério risco para o meio ambiente, pois possuem em sua composição metais pesados altamente tóxicos, como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo, além de outros compostos químicos como os BFRs (Brominated Flame Retardants). Em contato com o solo, os metais pesados contaminam o lençol freático; se queimados, os BFRs liberam toxinas perigosas. Portanto, a manipulação e processamento dos REEE, de forma incorreta e desprotegida, contamina os seres humanos que executam estas tarefas e o meio ambiente à sua volta.

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  5. Quanto ao lixo eletrônico, o descarte é feito quando o equipamento apresenta defeito ou se torna obsoleto (ultrapassado). O problema ocorre quando este material é descartado no meio ambiente. Como estes equipamentos possuem substâncias químicas (chumbo, cádmio, mercúrio, berílio, etc.) em suas composições, podem provocar contaminação de solo e água. Além do contaminar o meio ambiente, estas substâncias químicas podem provocar doenças graves em pessoas que coletam produtos em lixões, terrenos baldios ou na rua. Estes equipamentos são compostos também por grande quantidade de plástico, metais e vidro. Estes materiais demoram muito tempo para se decompor no solo.

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  6. Francine Lehner-Gallay foi vítima, aos 18 anos, de uma intoxicação violenta por metais pesados, após um grave acidente de trânsito. Ela descobriu, após 26 anos de pesquisa e de incompreensão, que essa intoxicação foi provocada pelo desinfetante à base de mercúrio — que hoje não é mais utilizado. Os sintomas que ela apresentava após o acidente foram encontrados em seus três filhos desde o nascimento. Assim, ela concluiu que intoxicou seus filhos com mercúrio durante as gestações.

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