domingo, 3 de agosto de 2014

INTOXICAÇÃO POR ARSÊNIO

Relembrando um pouco a temática da conceituação polêmica de "metais pesados" temos, na postagem de hoje, uma substância que, mesmo sendo considerada um dos principais metais pesados, não se classifica como metal, e sim como semimetal. Deixando questões conceituais de lado, entretanto, vamos abordar agora algumas de suas propriedades. 

O arsênio pode existir em quatro estados de oxidação: -3, 0, +3 e +5, e existem algumas diferenças entre as propriedades dessas formas. Sob condições redutoras, arsenito (AsIII) é a forma dominante; arsenato (AsV), por sua vez, é geralmente a forma estável em ambientes oxigenados. O arsênio elementar (As0) não é solúvel em água, sendo que os sais formados por este elemento apresentam um amplo espectro de solubilidade, dependendo do pH e das características iônicas do ambiente. Algumas das propriedades fisicoquímicas desse elemento estão ilustradas abaixo.


É bastante utilizado como inseticida (na forma de arseniato de chumbo) e herbicida (arseniato de sódio). O Arsenieto de Gálio, composto sintético, possui grande valor para a indústria informática, pois pode ser utilizado como material semicondutor em circuitos integrados. Já o Arseniato de Cobre Cromatado representa um dos principais usos dessa substância. O CCA consiste em uma mistura de três compostos pesticidas - crômio, cobre e arsênio - muito utilizada na preservação de madeiras contra fungos e outros microorganismos decompositores. 



Ainda que fontes como agrotóxicos e a lixiviação de minas de ouro abandonadas sejam muito importantes, a principal fonte de contaminação de arsênio é a ingestão de água contaminada, direta ou indiretamente. Lençóis freáticos de muitos países asiáticos possuem concentrações tóxicas dessa substância, e acredita-se que a irrigação de plantações de arroz com águas de poços rasos contaminados seja responsável pela contaminação de um número muito maior de pessoas, já que arroz constitui a principal fonte de alimento de grande parte da população rural asiática. Bangaladesh é o principal exemplo de uma grande contaminação por arsênico através da água. Na década de 1970, ONGs ocidentais, buscando combater epidemias de cólera e desinteria e aumentar a produção de arroz, financiaram a contrução de milhões de poços. O que as ONGs não sabiam era que os poços foram escavados muito superficialmente, e as águas a que davam acesso estava contaminada com arsênio. Atualmente, de acordo com uma pesquisa publicada em Junho de 2010 pelo The Lancet Medical Journal, 1 em cada 5 mortes em Bangaladesh estão ligadas à contaminação com arsênico pela água dos poços. A Organização Mundial de Saúde classifica o caso como "a maior contaminação em massa da história". 





A toxicidade do arsênico reside na sua propriedade corrosiva e de, após ser absorvido pelo organismo, perturbar vários processos metabólicos essenciais. A intoxicação aguda por ingestão de arsénico ou seus derivados provoca a inflamação e formação de úlceras na boca e no tubo digestivo, provocando por vezes hemorragias significativas e uma série de problemas hepáticos, renais, cardíacos e encefálicos que evoluem rapidamente. Por seu lado, a inalação do gás arsénico manifesta-se através de dor de cabeça, vómitos, sensação de formigueiro, icterícia e insuficiência cardíaca, também de rápida evolução. Em ambos os casos, se a dose ingerida ou inalada for elevada, pode favorecer o desenvolvimento de complicações mortais. Por outro lado, em caso de intoxicação crónica, as manifestações vão-se evidenciando gradualmente e baseiam-se em debilidade, perda de apetite, vermelhidão e úlceras na pele, dor de cabeça, inchaço e debilidade dos membros, problemas digestivos, renais, hepáticos e do ritmo cardíaco, com uma grave deterioração das funções mentais nas fases avançadas. 

Fontes:
http://www.nbcnews.com/id/37958050/ns/health-health_care/t/arsenic-water-killing-bangladesh/#.U94YmPldXT8
http://www.sbtox.org.br/Revista_SBTox/V19[1]2006/V19%20n1_Pag%2033-47.pdf
http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/07/18/noticia_saudeplena,149459/paises-concordam-em-tirar-arsenico-causador-de-cancer-do-arroz.shtml
http://www2.fc.unesp.br/lvq/LVQ_tabela/033_arsenio.html

7 comentários:

  1. Os efeitos do envenenamento leve a partir da inalação de arsênio ou seus compostos incluem perda do apetite, náusea, e diarréia. Efeitos da exposição mais intensa ao arsênio incluem: (1) sensação de “pinicação” nas palmas das mãos, ou câimbras nos músculos da panturrilha; (2) calor e irritação na garganta e estômago, um odor de alho no hálito e na respiração, ou um gosto metálico na boca; (3) vômitos, aumento da freqüência das evacuações, com fezes muito soltas; (4) efeitos neurológicos, incluindo irritabilidade, inquietação, dores de cabeça crônicas, apatia, fraqueza, tontura, delírio, sonolência, convulsões ou coma.

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  2. O arsênio, em doses consideráveis possui múltiplos efeitos nocivos no organismo. A toxicidez do arsênico pode causar hálito e suor com odor de alho, desconforto físico, anemia com leucopenia moderada e eosinofilia, problemas digestivos (anorexia, náuseas, vômitos, constipação ou diarréia), circulatórios (vasodilatação leve com aumento da permeabilidade capilar podendo causar nos casos mais graves uma necrose de extremidades conhecida como a doença dos pés pretos), cardíacos (lesão do miocárdio com prolongamento do intervalo QT e ondas T anormais), neurológicos (neuropatia periférica com formigamento e sensação de agulhadas em mãos e pés), musculares (cãibras e fraqueza em pernas e pés podendo haver dificuldade para andar nos casos mais graves) e dermatológicos (hiperpigmentação principalmente no pescoço, pálpebras, mamilos e axilas, vitiligo, hiperqueratose, queda de cabelo, estrias nas unhas e câncer).

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  3. A detecção e dosagem laboratorial de arsênio na urina confirmam definitivamente a intoxicação por arsênio ao encontrar concentrações elevadas, apesar de que concentrações baixas não descartam a relação causal, dependendo da hora da ingestão. Os valores de referência estão definidos como 50µg/L em dosagem de urina pontual, ou um total de 100µg em urina de 24h. Resultados não muito elevados, em quadros clínicos leves de pacientes que ingeriram frutos do mar algumas horas antes, devem ser interpretados com cautela. Em casos de arsenicismo (intoxicação crônica pelo metal), ou mesmo para fins médico-legais, a dosagem de arsênio no cabelo ou unhas é recomendado. Nos casos agudos, a toxicocinética do arsênio não justifica a realização de dosagem com essas matrizes.

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  4. Necessário se ter noção de como funciona o tratamento dessa intoxicação. É empregado o B.A.L. (British Anti-Lewisite) ou dimercaprol, que é o 2-3 dimercapto-propanol, que atua através de seus grupos tióicos (SH) os quais, arrancam o arsênico dos complexos protoplasmáticos vitais, formando novo complexo sendo eliminado pelos rins. A dose é de 3 a 4 mg/kg peso, não devendo ultrapassar a 300 mg em uma só dose. É encontrado em ampolas em solução oleosa para aplicação intra-muscular. Outras medidas são lavar os olhos com água se atingidos, água e sabão ou suspensão de hidróxido férrico nas partes contaminadas do corpo e lavado gástrico se houver ingestão, seguido de purgante salino. Precisa ainda completar com tratamento sintomático e de fortalecimento geral.

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  5. A literatura universal é relativamente pródiga em descrições de intoxicações agudas por arsênio, sendo a de Flaubert, no romance Madame Bovary, uma das mais acuradas, abordando a ingestão do veneno pela protagonista, em tentativa de suicídio bem sucedida, e relatando seus sintomas gastrintestinais iniciais, suas dores abdominais, o choque hipovolêmico e, finalmente, a morte.

    Na realidade, o quadro clínico é bastante inespecífico, podendo ser causado por diversos outros fatores, tanto tóxicos e como infecciosos. O médico deve estar atento à possibilidade de intoxicação por arsênio, a partir de detalhes da anamnese colhida junto ao paciente ou acompanhantes, da história psiquiátrica, das eventuais tentativas anteriores de suicídio e do acesso ao sal por parte do paciente (as profissões de químicos, farmacêuticos, técnicos de laboratório, facilitam acesso aos compostos de arsênio).

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  6. a absorção pode dar-se essencialmente por 3 vias:
    - Oral (cerca de 95 % dos casos).
    - Inalação (25 a 40 % dos casos).
    - Dérmica (comprovada mas ainda não quantificada).
    A absorção está dependente da forma química e do tamanho das partículas sendo que as formas pentavalentes são melhor absorvidas através do intestino, enquanto as trivalentes são mais solúveis nas membranas lipídicas.A ingestão de grandes doses deste composto conduz a sintomas gastrointestinais (G.I.), a perturbações cardiovasculares e das funções do sistema nervoso e, eventualmente, à morte. Nos sobreviventes, pode verificar-se depressão da medula óssea, hemólise, melanose, hepatomegalia, polineuropatia e até mesmo encefalopatia.

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  7. Os compostos de arsênio também foram amplamente usados como pesticidas, antes da era moderna dos compostos orgânicos. Embora seu uso tenha diminuído, a contaminação por arsênio ainda constitui um problema ambiental em algumas regiões do planeta.As fontes de arsênio para o ambiente são os pesticidas, mineração, fundição (ouro, chumbo, cobre e níquel), produção de ferro e aço, combustão de carvão. A lixiviação de minas abandonadas de ouro, de décadas e séculos atrás, continuam sendo fonte significativas de poluição por arsênio nos sistemas aquáticos. Em muitos alimentos, existem níveis secundáriosde arsênio, e, efetivamente, uma quantidade traço desse elemento é essencial para a boa saúde das pessoas. Entretanto, o excesso desse elemento causa câncer de pele e de figado, e talvez, de bexiga e rins. A intoxicação por Arsênio provoca em casos menos graves, o aparecimento de feridas na pele que não cicatrizam, chegando a um estado mais crítico da contaminação podem aparecer grandenas, danos a órgãos vitais e finalmente o câncer

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